Ouvira alguém chorar baixinho no canto daquele comodo cinza e sem sal. Olhara, reconheceu o rosto pálido, que dava aparência de pessoa fraca, sem amor. Estava com fome, fome de tudo aquilo que perdera na noite anterior. Parecia sem rumo. Estava mesmo sem rumo.
- O que ouve pequena?- Disse em um tom de voz meio confuso.
A "pequena" levantou a cabeça, até então escondida pelos joelhos de uma calça rasgada. Provavelmente a rasgou de proposito para parecer mais bonita. Olhou para o rapaz, parado como uma estatua em sua frente, esperando uma resposta, qualquer resposta, mas precisava ouvir algo daquela boca avermelhada. Seus olhos cobertos por lágrimas e olheiras, olharam penetrantemente para os olhos confusos do rapaz.
- Nada.- Disse pausadamente.
O nada significava tudo. Mal ele sabia o quanto o "nada" a fazia mal. O "nada" era ele. O rapaz olhou para ela como se insistisse uma resposta mais clara.
- Diga-me. - Disse quase como uma ordem.
Ela olhou mais uma vez para ele, mas quando sentiu o seu olhar fundo, desviou, como se fosse perigoso encara-lo. Mal sabia o doce e tímido rapaz, que outrora seus braços estavam enroscados nos dela, seus lábios, seus toques. Eram deles. Mas em sonho, um leve e doce sonho, que outrora feliz, quando trazido para a realidade tornava-se triste pois não era real.
- Você meu bem. Você criou as noites mal dormidas, os sonhos tristes por serem apenas sonhos. Você meu bem, que criou meus braços soltos sem os teu aqui.
O silêncio reinada após as belas palavras, ele estava em choque, paralisado, o que antes era estatua, virou uma pedra sem traço algum. A moça nunca fora notada pelo rapaz, só algumas vezes, só avia perguntado o que acontecia, pois sabia que tinha algo a ver, bem no fundo, mas sabia. Todos sabemos, todos sentimos, só não enxergamos.