segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Eu.

 Vou começar a deixar tudo no chão, parece tão mais prático e tão mais eu. Vou cuspir-me e deixar ali, vou derrubar-me e não limpar o rastro do chão, vou vomitar-me e ficar caída como uma criança que não sabe andar. Acho o natural tão melhor. Vou deixar o cabelo crescer, a unha ficar comprida, os olhos mais cegos, os ossos mais fracos. Vou deixar de ser exemplo, vou ser eu. Assim poderei guardar-me sem receio algum. Vou ficar como uma boneca parada sem nem piscar os olhos.

 Vou deixar raízes crescerem em meus pés e em meus braços crescerem folhas. Virarei arvore. Mas não serei uma arvore que dá sombra, acho que serei aquelas pequenas, tímidas, que ficam tão na sua que nem parecem que estão ali ao seu lado te fazendo cocegas.

 Acho que começarei a aceitar a minha alma preguiçosa e medrosa. Farei com que todos não reparem, com que ninguém toque em mim. Serei medo. Serei terror. Como aqueles programas de domingo que tanto passam e não levam ao nada além da segunda feira de manhã fria e tediosa. Não levarei a nada.

 Vou ser eu, deixando tudo exposto, como se meus sentimentos fossem grandes obras de arte desorganizadas em uma estante adolescente. Como se meus copos quebrados fossem esculturas, e meus rabiscos pinturas. Eu cairei por cima de tudo, e lá ficarei, tudo será exposto, até a outra face de mim.

Nicole Elis

Dizeres de alma mendiga.

 Sinto-me encharcada, fui afogada, parece que morri. Poderiam me torcer e destorcer, continuaria assim. Pareço uma roupa mal lavada, pendurada no varal ao lado de roupas tão branca. Me sinto suja. O toque da mão que me torce não é doce como deveria, e o que destorce é tão áspero que dói só de lembrar.

 Acho que mergulhei em auto-mar, afundei, afundei, e apareci aqui. Não quero sair, não gosto de imaginar onde poderiam me levar, talvez para um lugar incomum, ou, ou tão comum que vire assustador, tão assustador que nem caiba mais tanto eu.

 Mas acho que vivo para lembrar e não para ser torcida. Lembro do mar tão salgado, saindo por meus ouvidos e cuspido pro minha boca. Lembro de um braço que além de me torcer como se fosse por mais uma vez uma roupa molhada, me impediu de dar um salto daquela cena. Minha alma queria se desprender, mas parecia difícil com aquela figura estranha impedindo-a. Lembro da musica que tocava, parecia o som da morte, ou do mar. Meu rosto era de uma criança adormecida, suspirava como uma e agia como tal.

 Talvez seja assim, sou apenas uma criança impedida. Quer ir brincar, mas a porta está trancada. Ouve gritos e risadas de crianças felizes enquanto pulam na lama e se sujam sem preocupação. Mas não pode juntar-se a elas. Corre, corre, mas continua ao mesmo. Molhada, apesar de se torcendo e destorcendo. Sou criança, sou alma de mar.

 Vou correr, desta vez libertarei-me, mas a culpa pesa mais do que minha alma limpa, a sujeira é tanta que não vejo o branco. O limpo se torna sujo, o sujo se torna imundo. E logo sou a alma que nunca quis ser. Sou alma mendiga, suja, com fome, sede, tentando se libertar mesmo sendo tão livre. Assim me faço a grandiosa pergunta: Se libertar do quê?

 Talvez seja de mim. Desta pobre alma mendiga.


Nicole Elis

sábado, 17 de dezembro de 2011

Uma cena de libélula.

- Lisbela, Lisbela. Espera-me.
- O que tu queres Marco?
- Quero-te dolente, era tão mais sociável.
- Não Marco, deixe-me voar, e agora por favor, me chame de Libélula.

Libélula, Lisbela,

  O que houve Libélula, digo, Lisbela? Avistei tuas rosas jogadas pela estrada, estavam afogadas na água da chuva mais intensa que já vi. Para onde fostes? Abri a porta esperando ter-te ali sentada esperando meu amor, enquanto lia um livro e tomava um café. Mas não estava. O que restava era uma xícara vazia e um livro com uma página dobrada como de costume. Também havia um papel na maquina de escrever, vi que devia estar tentando escrever algo nesse lixo azul.
 Ouvi barulhos dentro do quarto, pulei pensando ser você. Não havia ninguém lá, só a janela aberta e o vento que fez um quadro cair. Seu quadro favorito, um que cansei de ouvir o nome, mas nunca lembro. Ajuntei-o, pendurei de volta naquela parede cor-de-céu. Logo olhei para cama, estava revirada, para onde foi seu costume de arrumá-la, Lisbela? 
 Lembrei-me de seu corpo noite passada, brilhante à luz da lua, tão reluzente e doce. A sua amargues tinha sumido aquela noite. Lembro de meus lábios acariciando os teus, e da sua preocupação com uma noticia qualquer. Mas a preocupação sumiu, sei que só pensou em mim no instante que te fiz minha.
 Agora estou aqui, como bobo escrevendo nessa velharia palavras que não irás ouvir, ou ler. Aquelas flores jogadas custaram-me caro Lisbela, eram as mais belas. Juro que depois de lembrar de seu corpo reluzente da noite passada, eu tentei organizar a cama e prender o quadro mais uma vez depois de cair de novo, mas só tu sabes o quanto não tenho jeito para isso. Mas Lisbela, eu tento.
 Lisbela, volte, traga seu sorriso para mim novamente. A chuva não pára benzinho, parece que é tu quem trás o sol. Não importa, deixarei teu livro na página marcada, e sua xícara esperando-te por mais uma madrugada.
 Libélula. Oh, Lisbela. Para onde foste? Deixando tuas flores jogadas pela rua. 

   De seu amargo Marco.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Dezembro.

 Via-o pequeno, indefeso, criança qualquer. Jogado, atirado, naquele mês em que todos pareciam unirsce. Mas só desencontrava. Cansava de ver por baixo, queria as nuvens, queria enxergar do céu.
 Era dezembro, como qualquer outro mês, era normal, indiferente. Dia primeiro suas primeiras palavras foram sussurradas com o nome do novo mês. Primeiro ato foi abrir os olhos para ver o sol, não sorriu. Suspirou. Era o vento, odiava ventos de domingos. Odiava domingo, odiava a divisão dos meses. Tinha sempre aquela sensação de ter que recomeçar. Queria a overdose que durasse o ano inteiro, assim não teria que recomessá-la, odiava amar novamente à cada mês. Na verdade, odiava recomeçar, o primeiro dia do mês sempre é tortura. Ver o dia 1 depois do 30, deveriam ser infinitos, como lembranças, como amores.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Açucares.

Boba ao escuro de um dia chuvoso e sem luz ela escreve versos tolos, de alguém dolente. Tola, achava que iria fazer como água no açúcar, derreter tudo e todos com as suas palavras pobres sem rimas. Tentando cobrir-se com uma mascara de palavras congestionadas em um pequeno pedaço de papel cor-de-uva, com letras mal desenhadas. Seu sorriso deitou-se em sua leve cama revirada, lá descansou deixando-a com medo do escuro penetrante de noite chuvosa e fria sem luz alguma. Queria fugir deste escuro coberto por monstros infantis. Os barulhos a irritam, é a chuva do escuro, o barulho das palavras brincando de ciranda. Mas o barulho deveria ser dela, assim seria um barulho molhado, tentando derreter os açucares de quem ama.


Nicole Elis

Congestionamento de palavras.

Quero cuspir o que me afoga. Palavras que ontem me atormentavam, engoli uma por uma não deixando-as escapar. Quero tossi-las, vomita-las, cuspi-las. Não quero-as aqui formando um congestionamento de palavras. Andei esperando que com tantos passos eu esqueceria de cada uma delas, e mesmo com memória fraca, eu lembro de uma por uma, guardadas, engolidas, mas parecem ainda estar na garganta, ali, onde não quer ir e nem voltar. Preciso me livrar dessa coisa. Mas não sei. Parece que perdi a facilidade de joga-las fora. Antes era fácil, cuspia elas e logo iam embora com o ar, sumiam no horizonte e nunca mais me incomodavam. Acho que mais uma vez terei que aderir pelo silêncio. Esperando que alguma hora elas queiram ir para o céu, ou apenas em uma folha de papel.

-Nicole Elis

Só nós, sem eu.

Faça de mim sua. Escreva meu nome naquele seu caderninho azul. Deixe-me ser só sua. Meu amor, amor. Risque o eu, coloque nós. Abraça-me e diz que sem mim não vive. Minta um pouco, juro que dormirei sorrindo. 


Nicole Elis

Domingos de ex-amor.

O azul do céu me acobarda. É um dia como aqueles perfeitos, mas não há nada de anormal, só solidão e musica, só. Ouço barulho, pulo impetuosa pensando que és tu. Vou ver, mais uma vez não é. Não voltará, eu sei. Mas o azul do céu é tão belo, trás paz, e me faz olvidar que tu foste embora. Parece que é como aqueles domingos de nada, em que tu saias para comprar um doce e logo voltava todo alegre tentando deixar-me feliz. Mas o doce não vem, e tu também. Sinto falta de teus acordes, de seu tom, de sua musica, de seu gosto. Doce. Sinto falta de seus solos em mim. De juras excêntricas. Do açúcar demasiado no café. Do jeito que rias da minha falta de inteligência. Sinto falta do doce que tu eras. Sinto falta da primavera. Mas sei. Ah, eu sei. Que novamente vou esquecer que tu não virás. Mas em um barulho, vou correr tentando encontra-lo, com um doce na mão, e na outra todo amor que perdemos por ai.


-Nicole Elis

domingo, 6 de novembro de 2011

Do eu ao novo eu.

Era tão adocicada, sempre com seus sapatinhos de boneca cor-de-mar. Sempre toda ajeitadinha, com seus olhos jabuticaba, sua pele pálida e bonita, sua boca rosada, como suas lindas maçãs do rosto. Sempre à sorrir. Mas acabara de concretizar seu maior sonho: Um amor. Na verdade um amorzinho, pequenininho, bonitinho, docinho. Sempre esperou -como as crianças esperam seu presente de natal- algo grandioso e magnifico do amor, como contos de fadas, os bobos "felizes para sempre". Apoiou-se, como se não fosse sair dali cedo, confortou-se ali. Seu cabelo cacheado e dourado escureceu, sua roupinha que sua mãe sempre arrumava com carinho para deixa-la combinando, descombinou. Tava tudo descombinado, seu coração, principalmente. Caiu no chão, sentiu-o, viu que o real não era como pensava. Estava certa. Conto de fadas não existe, e nem o amor de nuvens.

Nicole Elis

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Pássaro.

Pássaro cantante.
Por que parastes de cantar?
Seu canto era tão doce...
Tão forte.
Seu canto que arrepiava,
Onde foi parar?
Ache-o.
Mostre-o.
Cante-o.
Faço questão de ouvi-lo.

Amarelo sol.
Seu canto ilumina.
Mas por que se apagou?
Sente o mesmo?
Tu sentes?
Sabes o que é sentir?
Sabe?

Pássaro cantante, amarelo sol.
Volte a sorrir.
Reaprenda a cantar.
Desaprender faz parte.
Reaprender ainda mais.

Para que desistir?
És tão lindo quanto um beija-flor.
Para que não cantar?
Se é seu canto que acalma.

Amor, pássaro, amarelo sol.
Proteja-me com tuas asas.
Não quero me molhar nessa tempestade.
Proteja-me como havia prometido.
Ame como falastes.
E cante...
Cante.

Pare de andar em círculos.
Tu és pássaro.
Podes voar.
Amarelo, cantante.
Sol, melodia.
Pássaro.
Pássaro meu.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Cinza.

Ouvira alguém chorar baixinho no canto daquele comodo cinza e sem sal. Olhara, reconheceu o rosto pálido, que dava aparência de pessoa fraca, sem amor. Estava com fome, fome de tudo aquilo que perdera na noite anterior. Parecia sem rumo. Estava mesmo sem rumo.
 - O que ouve pequena?- Disse em um tom de voz meio confuso.
  A "pequena" levantou a cabeça, até então escondida pelos joelhos de uma calça rasgada. Provavelmente a rasgou de proposito para parecer mais bonita. Olhou para o rapaz, parado como uma estatua em sua frente, esperando uma resposta, qualquer resposta, mas precisava ouvir algo daquela boca avermelhada. Seus olhos cobertos por lágrimas e olheiras, olharam penetrantemente para os olhos confusos do rapaz.
 - Nada.- Disse pausadamente.
 O nada significava tudo. Mal ele sabia o quanto o "nada" a fazia mal. O "nada" era ele. O rapaz olhou para ela como se insistisse uma resposta mais clara.
- Diga-me. - Disse quase como uma ordem.
 Ela olhou mais uma vez para ele, mas quando sentiu o seu olhar fundo, desviou, como se fosse perigoso encara-lo. Mal sabia o doce e tímido rapaz, que outrora seus braços estavam enroscados nos dela, seus lábios, seus toques. Eram deles. Mas em sonho, um leve e doce sonho, que outrora feliz, quando trazido para a realidade tornava-se triste pois não era real.
- Você meu bem. Você criou as noites mal dormidas, os sonhos tristes por serem apenas sonhos. Você meu bem, que criou meus braços soltos sem os teu aqui.
O silêncio reinada após as belas palavras, ele estava em choque, paralisado, o que antes era estatua, virou uma pedra sem traço algum. A moça nunca fora notada pelo rapaz, só algumas vezes, só avia perguntado o que acontecia, pois sabia que tinha algo a ver, bem no fundo, mas sabia. Todos sabemos, todos sentimos, só não enxergamos.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Pássaro.

Ai amor. Não me olhe assim, com esse sorriso. Só me faz amar, amar e amar. Onde faço você parar com isso? Digo, não é só o sorriso. O brilho nos olhos. O jeito de rir. Quando você tenta fazer os outros rirem com coisas bestas - que só eu rio. O jeito de se mexer, até o jeito de andar. Tudo isso forma essa coisa estranha que sinto, graças a você que deixa tudo tão cego, e só consigo enxergar quando você está aqui. Para que amor? Não percebes o brilho tenso no olhar? Ou o sorriso tão bobo?  Reduza isso, reduza o que me faz o amor. Você me trás o abismo, ao mesmo tempo a ponte. Você me trás as flores mas ao mesmo tempo murcha-as. Você trás a luz, mas é noite.
Tu es o contrário de tudo o que devia querer. É tão bobo, imaturo. Eu preciso de carinho, de amor. Tu não me dá isso, me da alegria, mas ao mesmo tempo distância. É uma placa de "não me toque". Tu não trás choros, deve ser o motivo de tanto amor. Se continuar assim será tão infinito, e será mais intenso. Não quero, não posso. Nunca posso. Nunca quero. Não quero nada do que não seja você ao meu lado. Parece clichê. Admito, é clichê. Mas é o que o amor faz. Anseio, avidez, você.
 Mas é cedo amor, diga isso pra mim, é cedo. Crio coisas impossíveis e ainda coloco a culpa em ti, que está ai parado, se preparando para voar, como um pássaro tentando achar um lugar mais quente para morar. Voe pássaro, tente pensar que eu sou o calor que tanto procuras.


-Nicole Elis

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

.

Voltou, ou não. Toda aquela vontade de te ter, te abraçar, te sentir, de ouvir a "nossa" musica. E eu achava que tinha matado tudo, as vontades, os pensamentos, os amores, as mentiras... Mas parece que voltou, idiota né? Sinto saudades do teu cheiro. Da sua explosão. De toda essa coisa de mão soada e de perna tremula. Eu sinto isso ainda, mas não por ti, por isso sinto saudades, saudades de sentir por você, de você, com você. Quero discos, quero contos, quero textos, quero amor, tudo por você. Não sei porque quero, sendo que você nem lembra quem sou, só quero, sem porque, é igual sentir, nunca sabemos o porque, nunca. Talvez seja pela felicidade que eu sentia, era algo estranho, intenso, diferente demais pra mim, parecia uma clareza, uma luz, e foi, se foi. Eu acordava feliz e ia dormir feliz, todos os estranhos dias, até que foi se acabando, e então o escuro voltou, sempre o escuro, sempre. É uma duvida o que eu sinto agora, só uma grande duvida.
Parece que quando você saiu tudo ficou mais confuso. Não sei mais o que quero, só o que tenho que querer, ajo por obrigação não por mim, pois nunca sei o que eu realmente quero, talvez ainda seja você, ou não. Estranho escrever sobre tu depois de tanto tempo sem nem ouvir tua voz, voz irritante mais ao mesmo tempo tão clara e bonita, clara pela luz que trás e bonita porque é sua. É amor, vou me levantar e te deixar ai com sua nova vida, sem mim, sem ninguém que antes dizia te fazer bem.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

-

Parabéns silêncio. Vencestes as palavras mais uma vez, matou-as, sem pena, sem piedade. Não quisestes nem ouvi-las. Preferiu você. Preferiu o silêncio. Esqueceu das mais lindas primaveras? E dos verões, esqueceu também? Você sempre perdia, as palavras sempre devoravam o silêncio, mas agora parece que o outono voltou, apesar de já ser primavera. As palavras sempre tiveram um apetite voraz, agora perderam a fome, perderam a batalha. Pareço até gostar do silêncio, sou até "quietinha" demais, falo quase sussurrando com vergonha as vezes, claro. Mas pareço, não gosto. Amo palavras, amo aquelas frases ensaiadas que nunca dão certo, não parece mas amo. Tudo que amo não demonstro. Me odeio por isso, me sinto um monstro, perco pessoas, não falo nada, por isso acham que prefiro o silêncio, sou um mostro. Parabéns silêncio, por reinar na minha vida. Eu odeio o silêncio do telefone que não toca, das palavras que nunca são ditas, das frases esquecidas que eram tão lindas e decoradas, mas do nada se perdem. Cada palavra é um sentimento, mas e o silêncio, o que é o silêncio? Duvida talvez. O silêncio é duvida. Mas e quando as palavras forem duvidas também, ela é um silêncio como palavras? É uma mistura? O que é quando o silêncio é uma maneira de demonstrar amor? O que é? Diga-me, grite, sou um pouco surda. Silêncio. Silêncio de novo. Nenhuma ideia, nenhuma palavra em mente, sempre as mesmas coisas, as mesmas frases decoradas em frente de um espelho meio embaçado. É como se sua face triste estivesse tapada pelo silêncio, ao em vez de mentida pelas palavras. O silêncio se acha sábio de mais por dominar tantas faces. Mas espertas são as palavras que enganam tão bem. Parabéns palavras. Parabéns silêncio.
 E essa luz cega meus olhos,
 Esse frio congela meu coração.
 E só novamente eu explodo de inspiração.

 E essa distância que me mata,
 E essa tristeza que vem junto.
 Tudo está aqui, menos você.

 E essa dor que invade meu coração,
 Essa falta de um só alguém.
 Eu me sinto nada sem você.
 Eu sou um nada sem você.

 Esse sono que fecha meus olhos.
 Nos sonhos que vou ter,
 Você vai estar aqui,
 Vou ouvir sua voz,
 Vou te ter junto a mim.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Silêncio.

 Estava um silêncio ali, não um silêncio amargo e sim um silêncio de amor. Ele acariciava seus longos cabelos negros que cobriam toda a sua coluna. Sorriso meigo. Aquele sorriso que para ele iluminava mais do que as estrelas. Logo seus olhos enfrentavam os dela. Olhos cor de esmeralda, tão brilhantes quanto o sorriso. Que sorte de estarem juntos naquela noite fria, podendo esquentar um ao outro. Logo depois dos olhares e caricias, aqueles dois lábios tornaram-se um só. O lábio dele avermelhado e o dela meio apagado. Logo abraços, um só novamente. Eram um só. Silêncio. A música de fundo havia acabado. Eles não viviam sem o silêncio da musica. Levantaram como em um pulo. Olhares quentes. Corpos brancos e frios, principalmente o dela. Ele levantou disposto. Sua estante era cheia. Pegou dois, seus preferidos. Falou como em um sussurro, com voz rouca, e um grande tom de amor.
- Qual deles?
 Ela sem dizer uma palavra apontou para a esquerda. Beatles. Sempre Beatles. Ele sorriu. Amava o silêncio dela. Amava aquele olhar de mistério. Gostava de tentar descobrir o que aquele meio termo sentia ou queria. Ela olhou-o satisfeita, e com amor, como se o chamasse novamente para seu lado, ali naquela cama pequena que mal cabia aqueles dois corpos. Ele parecia ter desvendado esse olhar. Mas fez um sinal de espera e saiu por aquela porta branca com algumas palavras desconhecidas por ela.
 Como se ela dublasse a musica, mexia os lábios no ritmo. Sentia-se como se estivesse em um filme, de tão perfeito. Pisou no chão e acordou para a realidade. Acendeu um cigarro. Levantou-se e andou em direção aos discos. Como se folheasse um livro, viu os discos rápido, mas um por um. Seu corpo estava exposto, mas nem percebera. Colocou uma blusa dele. Beatles. Sempre Beatles. Sentou-se naquela miúda cama mais uma vez. "Que bagunça" pensou. Só pensou, sem falar uma palavra. Amava o silêncio. Mais um cigarro, nessa altura seus pulmões estavam pura fumaça, mas nada atingia seu coração. Por enquanto. O olhar dela o queria ali, já passava alguns minutos daquele sinal de espera e do olhar de "não vai". Sem segundos. Como se os pensamentos o trouxesse ali. Ele entrou no pequeno cômodo mais uma vez. Tinha duas xícaras na mão. Café. Sorriu. E ele quando a viu sorrio também. O olhar perguntava se ela queria, e ela sem nenhuma palavra dizia que sim. Ele a amava e ela o amava, só o olhar dizia, não precisava de palavras para isso. Ele viu aquela fumaça toda, odiava cigarro. Foi até à janela, abriu-a. O som da noite da cidade enterrou-se em sua pele pálida e brilhante, junto com a brisa. Ela o olhou com um olhar de reprovação. O barulho atrapalhava a sua musica. Era época de carnaval. Ele gostava. Apenas sorriu. Ela encolheu-se. Ele sentiu o frio. Deitou-se junto a ela. O silêncio era grande. Só podia-se ouvir o barulho dos lábios se tocando e dos carros lá fora naquela noite de carnaval. O olhar mistério voltava. Ele sorrio. Disse algo, mas ela não ouviu, estava concentrada demais no lábio avermelhado dele. Mistério. Suspiro. Silêncio. Ele saiu e ela ficou ali lembrando de cada movimento de seus lábios a alguns segundos atrás. Silêncio e frio. Ele voltou com algo na mão. Supostamente uma caixa. Olhar de mistério, mas dessa vez dele. Ela pegou aquela caixa, suas mãos tremiam gritando por surpresa. Olhos de mistérios com amor viraram surpresa com amor. Beijaram-se. Tornaram-se um só mais uma vez. Silêncio. Amava o silêncio. Amavam o silêncio.


- Nicole Elis

quinta-feira, 15 de setembro de 2011


Minha voz já rouca de tanto gritar coisas que você não vai ouvir, acaba com a chuva. Essa chuva foi a que levou tudo, minha alegria, meus sorrisos e todos aqueles que antes me davam a mão e diziam “Estou ao seu lado”. A chuva parou, minha voz sumiu, como vou gritar por socorro? Raiva, ódio, tristeza, arrependimento, angustia, tudo junto em um coração em pedaços pronto pra explodir mais uma vez. Já não fico surpresa com isso, é normal, passa, vai passar, se não passar vai piorar, mas preciso manter a calma. Logo vem a dor, aquela dor que aperta seu coração e você não pode fazer nada além de chorar, eu sei, chorar não adianta nada, só que acalma, e eu preciso me acalmar. Me arrasto procurando alguém, tento gritar mas lembro que tenho que me acalmar, é uma confusão, sentimentos perdidos, palavras jogadas ao vento, amores que viraram algo que não tem nome, saudades de algo que não volta e que talvez nunca existiu, tristeza. Peço desculpas para minha vida, como fui fazer ela ficar assim? Perdão. Quero voltar no tempo, voltar a ser criança e não precisar me preocupar com tais coisas, onde o amor era o que eu sentia por meus brinquedos, quero aquele tempo, onde deserto era um lugar e não meu coração, onde a chuva poderia transmitir alegria mas hoje simboliza as lágrimas que tanto derramei. Tão nova, tanta coisas para dizer, mas sem voz, sem perdão, sem ninguém. Só quero alguém, só quer o sol, a luz, o brilho do dia. Cansei, quero fugir mas estou sem energia para correr. Parada, no som do silêncio enfim adormeço.