quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Fuga


As paredes sufocam
o que quer fugir.
As portas trancadas
não nos deixam sair.

Suas mãos me seguram,
Me colam a ti.
E seus olhos
Me fixam aqui.

Desses lábios,
dessas mãos,
não sairei jamais.
Mas as paredes sufocam.

Do amor que há em mim,
Do restante que há em ti,
Ainda não te desvendei,
Apenas te sigo.

Das minhas mãos até as tuas,
Dos meus pés até os teus,
O que resta é o chão
Que se abre em nossos pés.
Nicole Elis

domingo, 16 de dezembro de 2012

Suja Melancolia


A rua está suja.
É noite!
A melancolia e solidão
Estão expostas por cada gota escura
Que a noite deixa cair.

O silencio não existe!
Por fraqueza e dor
Colocamos a culpa
De nossas almas
Na pobre chuva...

De-me tuas mãos frias
Talvez possamos voltar à luz
Abrir os olhos
Enxergar o que o mundo escondeu.

A noite está fria
Nesta rua suja.
Será que estás aqui,
Ou é apenas a companhia da solidão?
Nicole Elis

Insônia


Não há mundo ou amor.
As luzes se apagaram em dor.
Eu não sinto,
apenas sobrevivo
para mais um café.

O que mata
me força viver.
Olhos se fecham,
o medo escurece.
Mais uma dose de solidão.

As mãos se tocam,
os olhos não estão sós.
O que me vê.
O que te olha.
O mesmo é só ilusão.

Os dias não existem.
Mas o sol persiste.
Através dos prédios,
lares, mares,
vulcões.

De mim não existe.
O nada é apenas companhia.
As mão se tocam,
a tua,
a minha.

Não existe a luz no poste.
É escuro como tua alma,
de exagerada solidão.
Tu és morte de calor.
E outro café.
Nicole Elis

Fulgor


Algo acelera.
No que vejo e desejo.
No que toco e anseio.
As noites frias sufocam nossas almas
Perdendo nosso melancólico calor humano
Viramos apenas sombras gélidas.

O sol que nasce e não nos vê,
Sente-se repulsivo ao olhas o triste andar humano,
As conversas da rotina
E os olhos perdidos
Cada um triste como qualquer ato.

Atravessando a parede rumo ao nosso controle
Tirando nossa consciência
Sempre pensando em si como o sol.

No que toco e anseio.
No que vejo e desejo
Há sempre uma luz
Que não irá nos salvar.
Nicole Elis

Fastio

Nada de irreal,
Dormimos e acordamos no mesmo mundo túrbido
Pintado sempre da mesma cor.

Apagamos nossas mentes querendo fugir,
A realidade nos caça,
Tristes e com medo continuamos a andar.

Não há o que nos salve,
A realidade sempre nos seguirá.
Andamos em fila como condenados do real.

Ao caminhar vemos o que nos destrói.
Nada aqui pode ser aceito.
Mas devemos, sempre devemos...

Nada nos mata ou liberta.
A força da terra não nos deixa voar.
E ao redor é o desprezo e a angústia que domina.

Não há nada que podemos fazer.
Só podemos tentar,
Mas a realidade sempre nos buscará.

Nicole Elis

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

L'amour

Tu vieste do nada.
Trouxestes a vida mais bela.
Deixaste as lembranças em musicas,
em livros, em fotos, em mim.

A memória que tenho,
é deste sorriso teu,
mostrado até para o céu.
O mais belo e sincero.

A memória que tenho,
é do teu andar, 
o olhar.
Tão misterioso quanto o fundo do mar.

A memória que tenho, 
é do teu cheiro,
tua blusa,
tua gola.

Tu sumiste do nada no nada.
Teu sorriso se foi junto com seu olhar.
Tua blusa e teu andar morreram no caminho.
Tu desvaneceste no tempo, pequeno sonho.

Nicole Elis

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Culpa


 O descanso é a parte mais esperada do dia, principalmente por um ser como eu, cansado até de pensar. O dia estava escuro e sombrio, não parecia dia, mas não chegava parecer noite, era um meio termo. Toda vez que eu olhava o céu conseguia ver a lua, ela parecia esperar a noite tanto quanto eu. Eu sentia... sentia mais do que qualquer um que respirava naquele momento, a vontade de poder deitar e tentar esvaziar a mente que naquele momento estava cheia.
 O dia era angústia, agonia, cansaço e dor. Quando o relógio mostrou 20:00 levei um susto, foi o único momento do dia em que eu poderia dizer que estava feliz, eu finalmente iria para casa.
 O trânsito estava um inferno, a agonia aumentou, me senti incomodada com tudo aquilo. Liguei o rádio para espairecer, o inferno melhorou. Depois de muito tempo parado, consegui chegar à minha casa, ela parecia até mais bonita e confortável do que no dia anterior. Havia ainda uma angústia dentro de mim, algo tão horrível quanto o dia que tive.
 Tranquei-me em meu quarto que estava escuro, mal enxergava minhas próprias mãos. Não tinha fome ou doença, apenas uma dor estranha, arrependimento talvez. Deitei, mas minha consciência pesava e o silêncio gritante me torturava. Não havia histórias que poderiam me fazer dormir ou poemas que me fariam sonhar, pois ele estava ali, o morcego. Se camuflava na escuridão, mas eu podia senti-lo. Me concentrei no cansaço, o pensamento se foi e logo as histórias que me fazem dormir vieram.
 Não durou, acordei com o tic tac do relógio e o silêncio que o morcego fazia, ele se escondia ali dentro do meu quarto, dentro de mim.
Nicole Elis

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Agonia


As luzes apagadas.
Para onde vou?
Entristecemos nosso vazio
enquanto a cidade vomita.

Não somos nossos donos.
A nossa arte na parede se apagou.
O nada agora habita nossa alma,
enquanto o mundo grita.

Sofremos impulso para pisar,
enquanto só queremos voar.
Nem a imaginação pode nos salvar...
O resto se apagou.
Nicole Elis

A Procura


Aos meus olhos se clareou.
A minha alma te junta em mim.
Aos ventos,
lento,
te jogo.

A imensidão azul morre
em meus olhos.
A luz do poste
estremece,
por tua chegada.

O meu mundo se fecha.
Onde estará o vento?
Estou dividida,
sem ti...
em mim.

Em um lugar apenas.
Tão próximo...
Tememos o mundo.
Tememos o amanhã.
Sem dor e piedade
perdemos.
Nicole Elis

Quem és?


O mundo em nada.
Andando em círculos,
pelas mesmas árvores,
pelas mesmas dores.

Das unhas aos lábios.
O mar se quebra sem medo.
Tudo se escurece,
em mim e em ti.

Andamos em sol,
sonhamos no ar.
O céu se fecha...
Onde queria estar?

Sou a culpa de mim mesma.
Morrerei em meu próprio mar,
viverei em minha própria treva.
Quem sou?

Não há nada em que posso salvar.
Estou esquecida,
dentro de meu próprio ser.
Voltamos aos círculos.
Nicole Elis

Em nós.


De mim,
o que ficará?
Os tristes domingos sem luz?
As palavras jogadas ao ar?
O tempo que passou
enquanto meus olhos estavam fechados?

Em mim,
o que procurar?
A felicidade escondia por baixo dos meus pés?
A velha sombra que escondi?
A triste memória já esquecida
dentro do baú?

Em ti,
o que viver?
Os olhos fechados?
A aventura de duas almas perdidas?
A alegria tão procurada
pelas ruas frias e vazias?

Em nós,
o que sentir?
Nicole Elis

Tarde

Não estava mais em si.
Pisou,
Apavorado pronunciou as duas palavras
Entaladas em suas garganta seca:
Onde estou?

Era como se dormisse...
Em um sono tão profundo
Que não lembrava
Nem de quem queria ser.

Seus olhos perdidos
No horizonte distante.
Arrastava-se da realidade à utopia.
Enunciou:
Quem sou?

Era como uma passagem,
Amarga e fúnebre.
E por seus ombros caídos
Ventava o desespero.

No mundo onde vivia
Até as sombras temia.
Encarava o espelho
Sentindo suas próprias mãos.
Quem és tu?

Na mente pesada
Havia destruição.
Os olhos lacrimejavam.
Continuava andando na contramão.

Aproximava.
Não achava saída.
Estava cercado
Por seu lúgubre passado.
Aonde vou?

O vento o leva.
As teias de aranha
São as lembranças
De tudo que ficou.

Os olhos abaixam.
A tensão e a angústia
Dominava sua alma
Que gritava apavorada:
Como fugir?

Não havia como correr.
Suas pernas eram cansadas.
Já reconhecia o nada.
Os passos já não eram tão pesados.




Nicole Elis

Novo


Ainda estou em mim?
Será que sou a mesma de alguns anos atrás?
O teto, o céu, o chão e o ar são os mesmos?

O amor não é.
A melodia não é.
O poema é.

E o sentimento?
Ainda chove;
Os pássaros ainda voam;
As pessoas choram...

Mas e eu?
Eu falo;
Eu sinto;
Eu respiro.
Mas não são...
Nunca são os mesmos poemas.
Nicole Elis

sábado, 30 de junho de 2012

O toque e a sombra.



Não posso enxergar,
mal posso pensar.
Vagando pelas poças,
torcendo pelos ares.

Não posso sentir,
mal posso prever.
Voltando pelo coração
olhando para o chão.

Não consigo chegar,
mal minha angústia pode se curar.
As aranhas tecem as sombras,
eu teço o mar.

Meus dedos se encostam,
minha alma foge.
Flores caem do céu,
chuvas brotam do chão.

Onde estou afinal? 


Nicole Elis.

domingo, 17 de junho de 2012

Sufoco.

Os passos lentos,
o sorriso sedento,
o mundo se perdendo,
sempre correndo...

Ah se eu pudesse parar
esse tempo sem graça,
para pintar meus dias,
chorar pela maioria...

São fechados e imundos.
O pescoço já marcado,
a mão já ágil,
e os olhares talvez enganados.

O silencio,
talvez seja esse o desejo.
O amor,
talvez seja esse o anseio.

Mas os olhos míopes desprezam.
As mãos passam sem tocar,
e a musica paira no ar.
Distraídos voltamos a falar...

Não há anjos,
ou até fadas.
Os sonhos se perdem.
Nos sufocamos.


Nicole Elis

Estamos presos!
Somos apenas humanos indefesos.
Há algo aqui,
Há algo lá.

Mudamos e mudamos de lugar,
mas nada se deixa amar.
Há algo aqui,
Há algo lá.

Estamos acorrentados!
Nos enterramos desesperados.
Há algo aqui,
Há algo lá.

Estamos acesos!
Os olhares se perdem pelo ar...
Há algo aqui,
Há algo lá.

Andamos e andamos,
nunca saímos do lugar.
Há algo aqui,
Há algo lá.

A luz branca nos reprimiu duramente.
E agora o que há de contente?
Não há algo aqui,
Há algo lá.

Estamos acostumados,
os raios não caem mais lá.
Há algo aqui,
Há algo lá.

Vamos nos escapando,
sumindo e evaporando.
Não estamos aqui,
não estamos lá.

O que cai dos meus olhos,
e o que sai de meus lábios,
não é o que há aqui,
é o que há lá.


Nicole Elis

domingo, 10 de junho de 2012

Ou não.


O mundo está em nossas mãos.
Humanos ou não,
Humanos ou não.

O que procuramos não achamos.
Amando ou não,
Amando ou não.

A confusão está marcada.
Amanhã ou não,
Amanhã então.

Estamos presos em jaulas.
Animais ou não,
Animais então.

Os passos se perderam.
No labirinto ou não,
No caminho então.

Os lábios se desencontraram.
Com vontade ou não,
Sem vontade então.

Os olhares se abaixaram.
Perdidos ou não,
Perdidos então.

O mundo está triste.
Chorando ou não,
Chorando então.

Corações se curam.
Sozinhos ou não,
Sozinhos então.

O tempo está passando.
Rápido ou não.
Rápido então.

As canções estão esquecidas.
Mortas ou vivas,
Mortas ou vivas.


Nicole Elis

sábado, 2 de junho de 2012

A procura.


O que ser,
quando em noites frias
o fim é melhor que o começo?

Não há de querer,
de ter?
O ser é estupido e miserável...

Oh morte,
por que não chegas?
Os dias já são cinzas
As noites tão frias.

A alegria se espremeu.
O mundo já girou.
E o sol, grandioso, já morreu.

O que ser,
quando em noites frias,
não há nem um começo para o fim?

Nicole Elis

Mãos

Suas mãos,
entoaram sobre minha face,
afagaram meu cabelo,
saíram morrendo mudas.

Suas mãos.
Oh grandes mãos,
como céu imenso,
como doces sextas feiras.

Ao ver-te,
seu sorriso imenso,
sua tristeza ardente.
Ah, como queria ter estas mãos nas minhas!

Ao ter-te,
esses olhos fitados aos meus,
o meu sorriso é o mesmo que o seu.
Ah, como é triste teu ar!

Suas mãos,
ou seu olhar,
são como o céu imenso,
ou como o mar.



Nicole Elis

domingo, 27 de maio de 2012

O que será?

Estou viva!
Talvez não em memórias,
talvez não em vidas,
talvez não em mim!

Estou presa!
Nos dias,
na nostalgia,
na monotonia.

O dom de ser,
já não é.
Mas agora,
tudo se foi.

Oh, grande ser decrépito.
Por que trazes a morte,
como sua amiga de infância,
trazendo sua doce capa preta?

Não há nada em vida,
imagina se há em morte.
Só muda de paredes brancas,
para uma escuridão enorme.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Silêncio.

É o que escuto,
em dias e noites,
no escuro e no claro.
Até quando pássaros cantam,
até quando as pessoas falam.

Eu -será mesmo eu?
Não sei a quem pertenceu,
os cantos afáveis.
Não era alma,
não era dor.

Sem aconchego ou amor.
É tudo sombrio agora,
o lado escuro -e silencioso,
do mundo nos dominou.

Assim se esmagou,
secos lábios fúnebres,
em apenas terra e mar,
não há fala,
não há voz.

Oh morte que não chegas!
Deixaste teu filho com nós,
amargurando-nos com a sombra que regas,
em forma de nuvem escura,
com cheiro de tempestade que chega impura.

Silêncio.
Alimente-nos com seu sabor amargo.
Silêncio.
Dê-nos seu gosto de morte.
Silêncio.


Nicole Elis

sábado, 28 de abril de 2012

Ciclo.

Oh vida,
por que és tão morte?
Tirou-se de mim a sorte,
de dias afortunados.

Oh morte,
por que existes?
Se a vida tão curta,
já é óbito de dias profundos.

Somos dança,
somos luz.
Somos cabecinhas
afogadas no azul.

Oh vida,
por que és tão cinza?
Trouxe-me um eu,
tão lôbrego e lúgubre.

Somos olhos,
somos narizes,
somos bocas,
somos dedos.

Brindemos a morte,
que nos trouxe a vida.
Brindemos a vida,
que nos trará a morte.

O escuro tão fúnebre,
o sol tão doloso.
Os passos tão quentes,
as lágrimas tão amenas.

Oh morte,
por que vives?




Decesso

Vou lento,
vou triste,
com o peso imenso,
de uma solidão intensa.

Dias escuros,
de olhos tão tristes.
Meses tão curtos,
de semanas tão cinzas.

Somos feitos de ferro,
ou algodão?
Nossos pensamentos,
suportáveis ou não?

Somos filhos de mãos tristes,
somos mães de musicas melódicas.
Sou sorriso de gente fraca,
sou nevasca do Brasil.

Janelas são vazias,
Ruas esburacadas,
mundo cretino, 
tempo sonolento.

Estamos todos
em nossas salas de espera,
ansiosos e inquietos,
esperando a neve no verão.






segunda-feira, 23 de abril de 2012

Olhos que se tocam.
Mãos que se veem.

Dias que giram.
Mundo que passa.

Vento que leva.
Tempo que voa.

Sorriso que vai.
Lágrima que vem.

Vazio que enche.
Sentimento no vácuo.

Solidão que abraça.
Beijos que se despedem.

Amor que vai.
Amor que vem.

domingo, 15 de abril de 2012

Agora.

Os ombros são lápides,
os olhos, os corpos.

O amor é sangue ardente,
de passos fortes e quentes.

Os gritos são gargantas,
roucas e insanas.

Anos são só voltas ao redor do sol,
dias são só a terra tonta.

Beijos são só bocas,
olhares são só olhos.

Abraços são braços enlaçados,
solidão é braço isolado.

Estar é pensar,
pensar não é estar.

Há lápides em seus ombros,
há tristezas em seus olhos.


Nicole Elis.

domingo, 25 de março de 2012

Preto e Branco.

Não tenho controle sobre meu próprio pobre corpo. O que digo, o que penso, o que faço, como eu ajo, nada disso faz parte de minha verdadeira alma. Estou perdida no meu próprio caminho feito por migalhas de pão que os pássaros esfomeados comeram.

 É acordar e dormir, e nem  isso faço por vontade própria, e o que sobra disso tudo é a solidão entre chá e café, café e chá. Talvez meu corpo está tentando tomar seu próprio rumo pela pressão desses dias calorentos, dessa chuva molhada, desse mundo vazio...

 Minha alma grita por aconchego, ela ainda tem esperança. Mas a melancolia e a solidão de dias de climas bipolares deixam-me presa em um mundo que é só meu, e quando dias aparentemente livres - para meu corpo- chegam devagar, minha alma não se desgruda desse mundo, e meu corpo se sente livre, viro criança,
 mas ao fundo estou presa no preto e no branco, no mundo em que todos falam tanto odiar, já eu digo apenas que é o meu mundo. É apenas um tipo de daltonismo, que é da alma não dos olhos.

 O preto é a solidão e a tristeza, o branco é a monotonia, e eu sou só mais uma vitima deste mundo vazio. Isolar-se não adianta. Chorar-me só piora. Gritar estraga a voz. Implorar é humilhação. O certo é conviver até a cor chegar no relógio. E pingos que libertem minha alma caem do céu. Se sentir livre deve ser bom.

domingo, 11 de março de 2012

Oco.


O desespero das almas pobres e fracas pode ser ouvido nesse silêncio agoniante de noite quente. Tapo meus ouvidos com as mãos molhadas, me recuso ao ouvir o torturante som dos gritos aterrorizantes vindo de interiores fracos e frágeis, de corpos podres e repugnantes. Já basta o meu, o eu, gritando, mendigando, suplicando, implorando, por um corpo melhor, por ser melhor.

 A minha angústia por não sentir é maior do que quando sinto. É triste e torturante dormir e acordar no escuro, afogada na solidão de dias quentes, porém dentro de mim é tudo sempre tão frio e vazio. Mas os dias são cheios, as pessoas ocupadas, os carros poluidores, o sol infernal, os olhos perdidos, o mundo denso, e meu coração tão esquecido.

 Todo dia é noite e toda noite é escura. Não há estrelas nem lua em meu céu particular, ou tem e meus olhos não enxergam, e é tudo culpa da falta de amor que coloca suas mãos em minha face esquecendo-se dos buracos para os olhos, assim tudo vira escuro e triste. É a falta de amor, tão triste e deprimente. A falta de animação, tão desalegre e melancólico. O vazio, tão cheio e confuso. O tempo, rápido e lento. É a solidão, mal dos que amam e dos que não sabem o que é amar.

- Nicole Elis

sexta-feira, 9 de março de 2012

Utopia.

Toda sua dor,
cura em seu corpo suado,
molhado.

Todo amor sofrido,
é esquecido,
com suas mãos molhadas em pele seca.

Toda a carência de uma alma,
é derrotada,
quando se está calma.

Todo o calor é aceitável,
quando o coração acelera,
 e o ser vira amável.

Toda vida é curada,
na satisfação divina,
de uma alma cansada.

E nas cavalgadas,
e nas ondas do mar,
o bom sempre é amar e amar.

E a dor é ardente,
o calor que mente,
para alguém que cansa de ser só.

É culpa de alma pobre,
assim se descobre
o amor e a ilusão.

Não é poema,
é explosão.

Não é amor,
é salvação.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A Tempestade


 Levanto-me faço tudo como sempre, a rotina dos que pensam. Vou para janela, sento sem medo de cair, até que se eu caísse o máximo que poderia acontecer é a minha morte, que não seria uma coisa tão ruim assim, se eu morresse tiraria todas as duvidas que me aflige todos os dias, seria mais uma libertação do que algo triste. Não tenho medo de morrer, trato ela apenas como o fim de um filme ruim.

 Ao sentar já posso sentir o vento das 6 da tarde purificando-me. Vejo as pessoas apressadas para sair do trânsito interminável, as mulheres da feira arrumando tudo com tanta pressa que até parece que está chegando um temporal - que não seria algo tão ruim, vejo o sol se despedindo apesar de saber que todos estão muito ocupados para prestar atenção na sua luz se apagando.

 Escolho um vinil às cegas, dessa vez escolho algo para combinar com o meu triste. Digo isso sabendo que o triste está em todo lugar, está no fim do dia quando as moças da feirinha juntam seu dinheiro e veem que não ganharam o quanto que queriam. Está nas crianças que saem com uma bola em baixo do braço procurando um lugar para fazer uma festa de sorrisos, e não acham nenhum pequeno mundinho longe dos enormes prédios e da multidão de carro. Está em quem ama, em quem sorri, em quem chora, está nos poetas, nos músicos, nos engenheiros, nos médicos, nos ouvintes, nos professores, no sol que já foi embora... A tristeza está na vida.

 Parece até que é um sinal – ou destino. Logo que começa a tocar o LP as primeiras gotas caem do céu, e logo as nuvens cinza gritam, fazendo as pessoas presas no maior congestionamento que já vi, quererem fugir dali, como se fosse o fim do mundo, elas não entendem que é só mais uma tempestade de rotina. 

 Observo a reação das pessoas com a tempestade que aumenta cada vez mais. As crianças querem ficar e tomar banho de chuva, já as suas mães puxam elas para dentro achando que a tempestade irá engoli-las. Os carros parecem flutuar e se apagar no céu escuro. Já eu não ouço, não vejo, não rezo, não ajo, não respiro e nem suspiro, eu sinto a tempestade, sinto seus terrores, sua escuridão, sua cor, seu suor, seu toque.

  A tempestade é como o amor.

Nicole Elis.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Fala de uma velha alma.

 Estou ficando velha. Minha doença aposta corrida com minha caretice. Parece que quanto mais os dias passam mais um ano eu envelheço, e minha vertigem fica mais constante. Meu navio encalhou e agora o mundo gira em seu redor, mas ele é só um pequeno ponto no meio da imensidão azul.

 O tempo é um crime contra minha pessoa. Deveria poder modifica-lo como se modifica a argila. O problema é que não há caverna que escape do tempo.

 Parece que a velhice me faz sonhar menos, não tenho tempo para fechar os olhos e pensar, a vela acesa não me deixa dormir e nem tentar sonhar. Agora respeito a lei da gravidade, estou com pés no chão, apesar de querer voltar a voar com as nuvens de algodão.

 Me sinto velha pelas rugas criadas em meu coração, que me faz só pensar em como está velho, e o quanto preciso troca-lo. Talvez não seja eu, talvez seja ele que esteja envelhecendo com tanta rapidez, assim como as paredes descascadas das medianeiras.

 Pode ser que seja apenas uma troca de pele, e que logo toda essa velhice precoce saia, e uma nova criança se habitue em mim. Mas é provável que a juventude seja apenas uma máscara perdida no caminho, que pode ser encontrada outra mais para frente, ou não.

 É possível que a velhice viva até um outro amor.


Nicole Elis

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Vazio de verão.

 A lacuna que o verão está deixando é maior que o sol que esquentou minha cabeça por tanto tempo. Queimo por fora e por dentro, de sentimentos incógnitos. Sim, o sentimento está por fora, consigo ver o reflexo deles no espelho, eles gritam para ser ouvidos por todos, mas só eu consigo ficar surda com seus gritos. Acho que é porque sinto...

 Apesar do vácuo gritante dentro de mim, me sinto cheia de tudo, até o impossível está dentro de mim. É o tudo disfarçado de nada. Parece que de tão quente que isso é, não consigo mais me mexer levemente para dançar no ritmo da vida, e vou ficando cada vez mais parada, no canto, como se estivesse triste, mas é só o tudo, ou o nada, é só o sol.

 E as nuvens se mexem, só elas. O sol fica parado, esperando ser coberto. E quando a chuva cai é como uma comemoração sem querer saber das grandes consequências, é como um carnaval dentro de mim. Então sentimentos gritantes passam à cantar rimas tão bobas que é até difícil de entender o que se passa. Mais uma vez são confusos e inexplicáveis.

 Os sonhos vão se aprofundando ainda mais em cada pedaço de mim, e vai ocupando todo o meu ser, tentando acabar com todos os espaços vazios. Então tudo vira sonho, sono, ilusão. Os sentimentos que antes gritavam e depois cantavam, evaporaram depois da grande chuva.

 Viro por mais uma vez uma alma de sonhos, uma pobre cabeça iludida, enquanto em algum lugar de mim ainda sobram grandes vazios, que talvez não seja tão vazio assim...

Nicole Elis

Restos de uma semana vazia.

O confuso me arrasta a cada dia mais, pelo chão áspero da rua vazia. E parece que em cada volta do mundo os sonhos vão desaparecendo aos poucos. É triste e sem cor, é noite. Os sonhos se perdem, o sorriso se destrói, e o pequeno mundo que guarda o "eu" que só eu sei que ainda vive, se abre, explode, morre.

 O coração faz de suas batidas uma musica lenta e melancólica. O triste que era descrito antigamente, mudou. Era mais denso. E o confuso transformava o "amor" em algo tão ruim, que ao ouvir a palavra seu coração já podia ser ouvido com sua musica lenta. Parece que sentar e esperar as rugas aparecerem, e o conhecimento de cada lugar que pode ser pisado aumentar. Mas erros vem de passos errados e de noites mal dormidas. Vem de insônias pensando e decidindo quem eu serei na manhã seguinte. Vem de mim. Dos momentos juntos com quebra-cabeça. Do impacto dos erros com o certo. Vem dos pés ao vento, fugindo do chão.

 O que me incomoda é que eu sei o que os erros fazem, mas e o amor? Talvez ele faça errar, e errar é aprender... Mas é estranho ter esse ciclo em sua vida quase todos os dias em que acorda com o coração pela boca. Acho que isso anda de mão dadas com o confuso, e assim torna-me uma alma arrastada pelo chão áspero da rua escura e vazia.

Nicole Elis


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Outono

 Está cada vez mais difícil pronunciar um não para meus desejos. O eu quer, o eu obriga, o eu consegue. E é assim que o novo invade cada vez mais meu ser, o novo amor, o novo desejo de se libertar. Os meus suspiros não são pelo mesmo motivo, e minha criatividade muda para pior a cada dia mais. Não consigo mais jogar tudo para fora como jogava antes, falo mais que escrevo, e isso que antes parecia bom, estraga o pequeno mundo de "eu".

 Minha alma mendiga não solta mais palavras, muito menos lágrimas. Tudo percorre pelo meu sangue, como em uma corrida sem fim, que vai de um lado para o outro, procurando um lugar para pular, mas tudo parece tão cansado que prefere ficar lá. E aperta, e dói. É congestionamento em uma alma mendiga, de palavras, de eu, de mim, de tudo.

 Parece que todos os meus conhecimentos viraram pó. Sou como uma nova criança boba, sem saber da vida, apenas dançando junto dela.

 As pontas dos meus dedos já cansaram de bater em ordem na pequena mesa, fazendo o ritmo do silêncio, e o olhar do que não é visto. Uma saudade enorme grita alto demais, dói meus ouvidos, mas saudades de quê? Talvez seja dos antigos olhos que poderiam ser chamados de céu. Provável que seja dos pés ritmados, dos braços ao vento, do sorriso inexplicável. Ou é, a simples saudades do "eu".

 Não consegui me largar, nem me jogar, nem deixar tudo de lado. Só continuo sendo algo desarrumado em uma estante qualquer, que muda constantemente. Sou o "eu" de sempre, com saudades de um "eu" que talvez não existiu.

 Pode ser que tudo seja levado com o velho e bom vento de outono. O novo, o velho, o tudo, o nada. E que sobre apenas eu.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Erupções de "eu".

 Já são quase nove, e meu teto - como o céu - já escureceu, deixando-me totalmente perdida no escuro. A chuva que cai não é mais nada do que só um barulho misturado em muitos outros. Já posso ouvir os fantasmas da solidão brincando de ciranda em meu tapete roxeado, que minha mãe comprou com tanto carinho sem saber que ele viraria mais um simbolo de solidão entre quatro paredes e abaixo de um teto escuro.
 
 O vento lá fora só é ouvido pelos amantes do silêncio. Os uivos da lua são imperceptíveis a ouvido-nu. Nenhuma das minhas companhias da noite me dão um amplexo. Fantasmas não abraçam, silêncios desabraçam, uivos fogem, a lua se cobre. Todos dormem, tudo se apaga, mas meus olhos continuam arregalados ao escuro e a solidão de um quarto que já vira um pequeno mundo mórbido.
 
 Não sou tão triste para estar aqui, só estou sozinha, só estou no silêncio...
 A aflição é tanta que chega a escorrer com o suor - apesar de ser uma noite chuvosa, o silêncio me abafa, sinto calor. 

 Não tem pássaros cantando, nem árvores dançando. O silêncio calou todos, fez todos pararem e ficarem observando o vulcão em erupção dentro de mim. Não é lava, é malemolência que se juntou ao quarto vazio.
 Só sinto que nada acaba. Rio, sorrio. Mas a erupção acontece a todo momento que piso e vejo que algo está por baixo de meus pé esbranquiçados pela falta de sol, parece até que a neve caiu sobre eles.

 Pode parecer triste, mas não é. É bom abraçar a solidão depois de uma luta sem nenhuma parada para a paz. É feliz abrir a porta pela tarde, e sair correndo como se fosse liberto de alguém ou de algo. É gostoso cantar e brincar de ciranda nas noites chuvosas e quentes. O triste é feliz, e as vezes o feliz é triste. 

 E a erupção aumenta, talvez eu me preocupe, talvez deixe assim, talvez eu abrace o vulcão e o acalme, deixando-se guardar para jorrar o "eu" uma hora de ciranda.


Nicole Elis

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Lavanderia 24h.

Felicidade: Uma palavra nitidamente difícil de ser pronunciada por um ser que caminha pela chuva às 3 da madrugada de domingo.

  Seus olhos como o sempre eram fixados ao chão. Seus fones falhados cantavam uma música meio antiga, que o sujeito adorava. Parecia que pelo menos um pingo de felicidade estava caindo sobre os ouvidos do rapaz. Seu casaco preto já estava ensopado, devido a grande quantidade de água que caia do céu escuro, sem nem sequer uma estrelinha à brilhar. Ele andava e procurava, algo que eu não conseguia descifrar. Meus pés pisavam nas mesmas lamas que o pé daquele moço pisava. Logo percebi o que eu estava fazendo: seguindo-o.

  Para que a minha curiosidade tinha que chegar aquele ponto? Onde eu estava com a cabeça? Acho que a chuva gelada tinha congelado meu cérebro.
A musica que saia dos seus fones estavam tão altas que eu podia ouvi-la e tentar cantar junto. Seus passos eram pesados, tão pesados que fazia a água pular do chão.
 Minha mente não se calava, fazia perguntas para eu mesma. O que um homem de quase dois metros de altura, andando quase em círculos, na chuva de uma madrugada de domingo, enquanto sua musica ensurdecia-o?

  Já tínhamos passado pela lavanderia 24h, algumas vezes, acho que estávamos andando em círculo.
 Apesar de passos pesados, ele tinha um jeito doce e leve de andar, e passar a mão por seu rosto molhado. Era uma doçura nunca vista por meus olhos.

 Algo rápido e meio inacreditável acontece: Ele para, olha para um banco, e até parecia que eu conseguia ouvir sua mente pensando "sento ou não sento?". Então ele senta, como um velho bêbado sem ter onde ir. E é aí que eu percebo que ele é muito mais bonito do que eu havia pensado. Sua pele demasiadamente branca combinava muito com seus olhos pretos, que com certeza fazia um conjunto perfeito com seu cabelo castanho-escuro. Mas as afeições do rosto era o melhor de todo o seu ser, era tudo tão perfeito que combinava com todo o resto, principalmente com seu casaco ensopado por causa da amarga chuva que caia sobre nossos corpos gelados.

  Certamente meu cérebro estava congelado. Sentei ao seu lado, fazendo-o olhar para mim com um olhar estranho. Em um momento ele estava empedernido. Parou, sem dizer, sem mostrar nem uma cara de desgosto além do seu olhar estranho. Era como se virasse pedra.

- O... O... Olá... - Eu disse, abaixando o olhar podendo ver claramente seu mocassim marrom e molhado.

- Oi. - Foi apenas uma palavrinha, mas assim deu para ouvir sua voz rouca.

 Seu olhar era tão triste quanto o de um poeta sem inspiração. E nada mais pronunciamos, ele só ficou a olhar para meu casaco vermelho-sangue, e o impacto da chuva em minha pele, e eu o seu mocassim que ficava cada vez mais molhado. E então, do nada, ele deu uma risadinha. De que diabos aquele ser estava rindo?

 - Estava me seguindo? - Ele perguntou com um sorriso maligno nos lábios.

 - Cla...Cla... Claro que não. Eu sempre caminho em círculos por está rua em madrugadas de chuva...

  E ele simplesmente deu mais uma risadinha e se calou. E por mais um tempo ele olhava para meu casaco vermelho-sangue e o impacto da chuva em minha pele.

  Felicidade: Ainda era uma palavra nitidamente difícil de ser falada por dois seres sentados em um banco encharcado enquanto se ensopam com a grande quantidade de água que despencava do céu.

 Fiquei por lá, pensando sobre minha mente estar se mudando aos poucos e minha alma tentando fugir de mim e ir para um lugar talvez melhor. Agora eram os meus olhos que estavam fixados no chão e ao mesmo tempo no nada. E se não houvesse chão? Eu estaria olhando fixadamente para o nada.
 Os meus olhos não estavam mais tão perdidos, e nem fixados no nada ou no chão. Estavam nos olhos daquele belo moço. Parecia ter achado.

 Infelicidade: Talvez era difícil essa palavra ser pronunciada por dois seres que se acharam em uma madrugada chuvosa de domingo.

Nicole Elis

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Renasceu.


 E agora me vem em mente: algo novo começou. É agora que o ser cai, e olha que é o chão que está por baixo de seus pés. Não é mais criança, não é mais o que era. É algo novo que começou, uma nova respiração. Uma nova ideologia. Não nasceu, renasceu.
 É como se fosse uma espécie que evoluiu, a emoção agora murchou como as antigas flores vivas. Todas as escolhas serão feitas por razão. O único pequeno pingo de emoção, será libertado por uma lágrima do escuro, onde nada e nem ninguém verá. 
 É como se os olhos fossem abertos e toda a cor do céu desaparecesse, virou cinza, dia cinzento. Não triste. Apenas não usa as mesmas táticas que antes, e isso não o faz um ser triste. Cogitamos e repensamos, todas as decisões passadas feitas por emoção de um poeta qualquer, estavam erradas. 
 Pois então, a chuva seria muito melhor que o sol que dói os olhos quando acorda. A chuva lava, faz renascer, faz pensar, faz-se lavar. 
 É como um dia que nasceu, um ano que surgiu, e um mês que reapareceu. É coisa nova. Tudo que é novo é bom, até que não seja mais tão novo, e então vira o antes: suportável. 
 Quero novo, o novo que não se desgaste que seja mais que suportável. Quero o novo que seja novo todas as vezes que eu respirar fundo e me perguntar o que há por baixo de meus pés. O ciclo que não acaba já virou algo que pesa em meus ombros. Isso de nascer e renascer, do ótimo virar suportável, já é o terror. É horrível abrir os olhos cada dia com algo novo, algo que renasce, que nasce. Não digo que quero algo igual para sempre, não, não. Quero algo que mude, mas não tão radicalmente. Não quero anos, nem dias, nem meses e nem sentimentos novos e tolos. Quero ser o eu, sem renascer. Achar um ponto chave entre eu e eu, que não cause tanto alvoroço em mim.
 E agora me vem em mente: algo novo recomeçou.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Amanhecer.


O vento puxa o sol
Como uma peça teatral

O vento sopra o mar,
Cria as ondas faz-se afundar.

O vento uiva entre as árvores.
Cria a musica mais bela ouvida pela manhã.

O vento inspira os pássaros.
Eles se abrem,
Voam em segredos,
suas asas cortam o vento.

Seu canto,
logo após uivos entre a árvore,
deixam o sol ser puxado e as ondas serem feitas
com a paz de um recém nascido,
que chora mostrando-se vivo.
Como o dia que nasceu,
Ao som dá orquestra mais bela,
Fazendo o dia brotar sorrindo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Conversas as cinco da matina com uma árvore solitária.

 A menina de vestido cor-de-céu olhava com seus olhos perdidos para o vento escuro através dos galhos da velha árvore solitária. A árvore observa que a menina tenta imitar seus galhos com seus pequenos bracinhos de criança miúda.

 - O que há menina?

 - Quero ser árvore como você.

 - Mas por quê?

 - Olhe como você dança com o vento escuro, seu balanço, seu ritmo, você dança ao som do vento, quero dançar como você, como árvore.

 - Ah, pobre menina, não entendes que não estou dançando. Estou tentando voar.

 - Voar?

 - Sim, como os pássaros que tu observas ao entardecer.

 - Ah sim, voar. Mas por que não voas? Árvores são capazes de tudo.

 - É o que sua mente de criança pequena pensa... Estou presa ao chão.

 - Está? - Ela disse observando o chão enquanto imitava os velhos galhos com seus bracinhos.

 - Estou, assim como você, nossas raízes nos impede de voar, e nossa obrigação de estar no chão nos impede de sonhar. Por isso sou árvore, sou sem sonhos, sou sem asas, só apenas uma árvore. Vejas, quando tento voar pedaços de mim caem, o mesmo acontece com você menina.

 - O mesmo?

 - É, a não ser que cê tenha asas...

 - Não dona árvore, tenho raízes como você, sou árvore, um dia serei pássaro, mas por enquanto quero dançar enquanto o vento puxa o sol com suas cordas de peça teatral.

 A árvore sorriu, deixou a menina pensar que era árvore mesmo sabendo que os pés de criança miúda já não estavam mais no chão.


 Nicole Elis.
"Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflete o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste." Fernando Pessoa.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Melancolia

Procuro rimas embaixo de pedras.
Vejo a inspiração longe com minha visão falhada.
Ouço uma musica como uma mente desesperada,
por inspiração.
Por atenção.

Rasgo-me como se fosse folha.
Meu peito cansa de doer,
com as batidas de meu coração.
Vou pular e fugir do chão,
para ver se viro pássaro,
talvez consiga voar.

Sinto o gosto do céu à clarear.
Vejo a árvore nua ao nascer do sol.
Ela se mexe com o vento,
dança ao ritmo da musica.
Ah, como eu queria ser árvore,
dançando, livre de qualquer coisa,
mas ainda sim,
presa ao chão.


Nicole Elis

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ela.

Sem as surpresas de um coração poeta.
Sem amores de criança.
Sem calor,
Sem cor.

Sussurravam-na sem resposta.
Chamavam-na sem retorno.
Gritavam-na sem que ouvisse.

Era um pássaro que cansou de voar.
Era luz que cansou de ficar acesa.
Era estrela que já não sabia brilhar.
Era ela, só ela.
Sem outros, sem jeitos.
Era ela, somente ela,
Sem ninguém a mandar.
Sem o mundo rodar,
Sem o amor para dar.

Pássaro cante.
Pássaro voe.
Ache o sol nesse céu nublado.
Reencontre seu amante.


Nicole Elis.

Verões e mais verões.

 Sua opinião nunca mudava: verões eram castigos com mar. Aquilo de olhar tantos rostos e não saber de nenhum a agoniava. Sentia-se desconfortável com os pés no chão, olhando o mar indo e vindo. Ela que deveria estar indo e vindo, mas estava imóvel com seus pés enraizados no chão. A cantoria matava-a. Esperava o fim como uma criança esperava o começo.

 Sua opinião nunca tinha mudado antes: verões eram castigos com mar. Eram jogos do mundo para fazer com que as pessoas se sentissem livres apesar de enraizadas no chão. Mas o mar tomou-a, engoliu-a, quebrou as suas raízes. Experimentou o melhor gosto do mundo: o silêncio. Seus olhos adormeceram, seus pés sumiram. Logo seus braços viraram asas, e voou, nadou. Virou peixe, virou ave. Virou o que não era, o que não queria. Mas virou. Amou. E o deserto inundado estava cada vez conquistando-a mais. Virou, voou, nadou, amou. Sentiu a água salgada em seus pés, mas o amargo ainda estava em seus lábios. Voou, só nadou.

Noites sem lua.

 A face parecia clara, mas do outro lado era escura. Era noite sem lua. Observando-a dava para ver seus pensamentos fugindo e correndo por ai. Sentia-se culpada, perdida. Era doce, porém triste, deixada de lado. Era criança sem sorrir, era dia sem luz, era noite sem lua. Sua alma mendiga fugia de seu corpo, andava por ai como um andarilho. Procurava um corpo não tão triste, uma mente limpa, algo puro e infantil. Procurava a doçura de um amor em açucareiros. Os sorrisos já não eram chamejantes, seus cabelos não tinham a cor viva de antes. Era um filme antigo. Sua face escura era descoberta, seu desejo já não era tão oculto. A lona que protegia seus sentimentos foi rasgada, não era mais um robô. Virou humana, virou amante, virou amor.

Nicole Elis.

Uma cena de Libélula e Delfim.

 Estava eu e o triste garçom em uma manhã de domingo fria e chuvosa. Eram nove da manhã, estava lá eu e meu café observando a praia vazia, que assim fica mais bela. O mar era um deserto d’agua. Gostava de manhãs assim, era a única. Procurava no fundo daquela pequena xicara de café um pouco de amor no mundo, ou pelo menos um pouco para mim. Peguei meu livro procurando nele algumas palavras de consolo. Pedi um bolo querendo que nele viesse inspiração. A pequena cafeteria era gostosa de ficar, a sua música ambiente combinava com o gosto do café. A chuva estava cada vez pior, e um vulto mudo e molhado passou arrastando as cadeiras do lugar. O vulto sentou-se como se estar totalmente molhado naquela cafeteria fosse à coisa mais normal do mundo. Seus olhos eram cor da minha planta preferida. Delfim. Seus olhos eram os mais belos que já havia visto, e eles brilhavam, de seus cílios pingavam gotas daquela chuva de fora. Vi sua mão levantar e fazer um sinal para o garçom que veio correndo como se já conhecesse aquele olhos-de-delfim. Logo percebi: estava olhando demais para aquela pele branca que combinavam tão bem com aqueles olhos azuis e aquele grande sorriso. Voltei para meu livro e meu café. Mas aqueles olhos eram hipnotizantes.  A musica ambiente mudou, agora parecia com algo francês. Fiquei lá, observado aqueles olhos de delfim tomando seu capuchino e lendo um artigo no jornal. Estávamos nós e o garçom. Ninguém na praia, ninguém no mar. Acabei me entretendo com meu livro, esqueci-me dos olhos de delfim.  Senti uma mão gelada em meus ombros.

- Cê tem açúcar moça? Na minha mesa não tem...

- Claro moço. – Dei o açúcar para os olhos de delfim.

- Gosto de cafés demasiados de açúcar.

Ele deu aquele sorriso de gigante e logo que agradeceu, deu as costas e sentou em sua mesa e logo colocou três saquinhos de açúcar em seu café enquanto deixava a xicara do capuchino de lado. Olhei ao redor, todas as mesas estavam vagas e com saquinhos de açúcar. Ele sorriu sem mostrar os dentes, eu sorri de volta. Meus olhos de jabuticaba pareciam estar hipnotizados, enquanto ele dava goles no café cheio de açúcar.

Meu livro me cansava, queria aqueles olhos. Sua voz era rouca e doce, eram como pássaros cantando em uma manhã fria de domingo pedindo que o sol volte.

Decidi sair da cafeteria, a chuva tinha parado, iria ler na praia, me distrair com algo que não sejam da cor-de-delfim. Peguei meu livro, paguei a conta, me despedi do garçom que disse com doçura “volte sempre ao Les Vergers de Pommiers”.

Sentei no banquinho que estava molhado na frente do imenso deserto d’agua. Olhei para trás como se procurasse novamente aqueles olhos doces, não os vi, só vi a grande placa amarronzada “Les Vergers de Pommiers”, ele ainda devia estar tomando aquele seu café doce. Voltei ao livro pensando no delfim. Ouvi um som de porta, sorri, eram os olhos-de-delfim. Foquei no livro, ele não iria até onde estava, foi o que minha negatividade disse.

- Posso me sentar moça?

 Só fiz sim com a cabeça, estava distraída com aquela voz rouca entrando por meus ouvidos. Olhos-de-delfim estava ao meu lado naquele momento.

- Que música está ouvindo moça?

- Hey Jude. - Tirei meus fones e respondi meio sem graça, com minhas jabuticabas em seus delfins.

- Adoro Beatles. – Ele disse com o sorriso mais belo que já havia visto.

Respondi com um sorriso, e percebendo que dava para ouvir a música sem os fones ele começou a cantar com Paul. A sua voz rouca parecia com pássaros cantando em uma manhã fria como se pedissem atenção do sol. Dei uma risada, e com um ar de timidez comecei a cantar junto. Logo acabou, paramos, rimos, sorrimos. E ele soltou algumas palavras.

- Que voz doce, como é seu nome moça?

- Lisbéla, e o seu moço?

- Marco, libélula, Marco.

- Libélula?

- Claro. Não é esse seu nome moça?

- É Lisbéla...

- Posso te chamar de libélula? É um inseto tão bonito...

Odiava isso de “libélula”, mas deixei, os olhos de delfim me hipnotizaram novamente.

- Então libélula, o que fazes aqui neste frio? Achei que eu era o único que vinha aqui nesses dias...

- Eu gosto. Queria paz para ler e tomar um café enquanto observava o impacto da chuva com a água desse 
imenso deserto molhado.

- Entendo. – Falou olhando fixamente para o deserto d’agua enquanto tentava compreende-lo.

Ficamos no silêncio, só a voz de Paul quebrava isso, era o silêncio mais bonito que já havia sentido. Era o silêncio do novo, do desconhecido, dos olhos-de-delfim.

Nicole Elis.