O vento lá fora só é ouvido pelos amantes do silêncio. Os uivos da lua são imperceptíveis a ouvido-nu. Nenhuma das minhas companhias da noite me dão um amplexo. Fantasmas não abraçam, silêncios desabraçam, uivos fogem, a lua se cobre. Todos dormem, tudo se apaga, mas meus olhos continuam arregalados ao escuro e a solidão de um quarto que já vira um pequeno mundo mórbido.
Não sou tão triste para estar aqui, só estou sozinha, só estou no silêncio...
A aflição é tanta que chega a escorrer com o suor - apesar de ser uma noite chuvosa, o silêncio me abafa, sinto calor.
Não tem pássaros cantando, nem árvores dançando. O silêncio calou todos, fez todos pararem e ficarem observando o vulcão em erupção dentro de mim. Não é lava, é malemolência que se juntou ao quarto vazio.
Só sinto que nada acaba. Rio, sorrio. Mas a erupção acontece a todo momento que piso e vejo que algo está por baixo de meus pé esbranquiçados pela falta de sol, parece até que a neve caiu sobre eles.
Pode parecer triste, mas não é. É bom abraçar a solidão depois de uma luta sem nenhuma parada para a paz. É feliz abrir a porta pela tarde, e sair correndo como se fosse liberto de alguém ou de algo. É gostoso cantar e brincar de ciranda nas noites chuvosas e quentes. O triste é feliz, e as vezes o feliz é triste.
E a erupção aumenta, talvez eu me preocupe, talvez deixe assim, talvez eu abrace o vulcão e o acalme, deixando-se guardar para jorrar o "eu" uma hora de ciranda.
Nicole Elis
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