terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Verões e mais verões.

 Sua opinião nunca mudava: verões eram castigos com mar. Aquilo de olhar tantos rostos e não saber de nenhum a agoniava. Sentia-se desconfortável com os pés no chão, olhando o mar indo e vindo. Ela que deveria estar indo e vindo, mas estava imóvel com seus pés enraizados no chão. A cantoria matava-a. Esperava o fim como uma criança esperava o começo.

 Sua opinião nunca tinha mudado antes: verões eram castigos com mar. Eram jogos do mundo para fazer com que as pessoas se sentissem livres apesar de enraizadas no chão. Mas o mar tomou-a, engoliu-a, quebrou as suas raízes. Experimentou o melhor gosto do mundo: o silêncio. Seus olhos adormeceram, seus pés sumiram. Logo seus braços viraram asas, e voou, nadou. Virou peixe, virou ave. Virou o que não era, o que não queria. Mas virou. Amou. E o deserto inundado estava cada vez conquistando-a mais. Virou, voou, nadou, amou. Sentiu a água salgada em seus pés, mas o amargo ainda estava em seus lábios. Voou, só nadou.

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