sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Culpa


 O descanso é a parte mais esperada do dia, principalmente por um ser como eu, cansado até de pensar. O dia estava escuro e sombrio, não parecia dia, mas não chegava parecer noite, era um meio termo. Toda vez que eu olhava o céu conseguia ver a lua, ela parecia esperar a noite tanto quanto eu. Eu sentia... sentia mais do que qualquer um que respirava naquele momento, a vontade de poder deitar e tentar esvaziar a mente que naquele momento estava cheia.
 O dia era angústia, agonia, cansaço e dor. Quando o relógio mostrou 20:00 levei um susto, foi o único momento do dia em que eu poderia dizer que estava feliz, eu finalmente iria para casa.
 O trânsito estava um inferno, a agonia aumentou, me senti incomodada com tudo aquilo. Liguei o rádio para espairecer, o inferno melhorou. Depois de muito tempo parado, consegui chegar à minha casa, ela parecia até mais bonita e confortável do que no dia anterior. Havia ainda uma angústia dentro de mim, algo tão horrível quanto o dia que tive.
 Tranquei-me em meu quarto que estava escuro, mal enxergava minhas próprias mãos. Não tinha fome ou doença, apenas uma dor estranha, arrependimento talvez. Deitei, mas minha consciência pesava e o silêncio gritante me torturava. Não havia histórias que poderiam me fazer dormir ou poemas que me fariam sonhar, pois ele estava ali, o morcego. Se camuflava na escuridão, mas eu podia senti-lo. Me concentrei no cansaço, o pensamento se foi e logo as histórias que me fazem dormir vieram.
 Não durou, acordei com o tic tac do relógio e o silêncio que o morcego fazia, ele se escondia ali dentro do meu quarto, dentro de mim.
Nicole Elis

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Agonia


As luzes apagadas.
Para onde vou?
Entristecemos nosso vazio
enquanto a cidade vomita.

Não somos nossos donos.
A nossa arte na parede se apagou.
O nada agora habita nossa alma,
enquanto o mundo grita.

Sofremos impulso para pisar,
enquanto só queremos voar.
Nem a imaginação pode nos salvar...
O resto se apagou.
Nicole Elis

A Procura


Aos meus olhos se clareou.
A minha alma te junta em mim.
Aos ventos,
lento,
te jogo.

A imensidão azul morre
em meus olhos.
A luz do poste
estremece,
por tua chegada.

O meu mundo se fecha.
Onde estará o vento?
Estou dividida,
sem ti...
em mim.

Em um lugar apenas.
Tão próximo...
Tememos o mundo.
Tememos o amanhã.
Sem dor e piedade
perdemos.
Nicole Elis

Quem és?


O mundo em nada.
Andando em círculos,
pelas mesmas árvores,
pelas mesmas dores.

Das unhas aos lábios.
O mar se quebra sem medo.
Tudo se escurece,
em mim e em ti.

Andamos em sol,
sonhamos no ar.
O céu se fecha...
Onde queria estar?

Sou a culpa de mim mesma.
Morrerei em meu próprio mar,
viverei em minha própria treva.
Quem sou?

Não há nada em que posso salvar.
Estou esquecida,
dentro de meu próprio ser.
Voltamos aos círculos.
Nicole Elis

Em nós.


De mim,
o que ficará?
Os tristes domingos sem luz?
As palavras jogadas ao ar?
O tempo que passou
enquanto meus olhos estavam fechados?

Em mim,
o que procurar?
A felicidade escondia por baixo dos meus pés?
A velha sombra que escondi?
A triste memória já esquecida
dentro do baú?

Em ti,
o que viver?
Os olhos fechados?
A aventura de duas almas perdidas?
A alegria tão procurada
pelas ruas frias e vazias?

Em nós,
o que sentir?
Nicole Elis

Tarde

Não estava mais em si.
Pisou,
Apavorado pronunciou as duas palavras
Entaladas em suas garganta seca:
Onde estou?

Era como se dormisse...
Em um sono tão profundo
Que não lembrava
Nem de quem queria ser.

Seus olhos perdidos
No horizonte distante.
Arrastava-se da realidade à utopia.
Enunciou:
Quem sou?

Era como uma passagem,
Amarga e fúnebre.
E por seus ombros caídos
Ventava o desespero.

No mundo onde vivia
Até as sombras temia.
Encarava o espelho
Sentindo suas próprias mãos.
Quem és tu?

Na mente pesada
Havia destruição.
Os olhos lacrimejavam.
Continuava andando na contramão.

Aproximava.
Não achava saída.
Estava cercado
Por seu lúgubre passado.
Aonde vou?

O vento o leva.
As teias de aranha
São as lembranças
De tudo que ficou.

Os olhos abaixam.
A tensão e a angústia
Dominava sua alma
Que gritava apavorada:
Como fugir?

Não havia como correr.
Suas pernas eram cansadas.
Já reconhecia o nada.
Os passos já não eram tão pesados.




Nicole Elis

Novo


Ainda estou em mim?
Será que sou a mesma de alguns anos atrás?
O teto, o céu, o chão e o ar são os mesmos?

O amor não é.
A melodia não é.
O poema é.

E o sentimento?
Ainda chove;
Os pássaros ainda voam;
As pessoas choram...

Mas e eu?
Eu falo;
Eu sinto;
Eu respiro.
Mas não são...
Nunca são os mesmos poemas.
Nicole Elis