segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Açucares.

Boba ao escuro de um dia chuvoso e sem luz ela escreve versos tolos, de alguém dolente. Tola, achava que iria fazer como água no açúcar, derreter tudo e todos com as suas palavras pobres sem rimas. Tentando cobrir-se com uma mascara de palavras congestionadas em um pequeno pedaço de papel cor-de-uva, com letras mal desenhadas. Seu sorriso deitou-se em sua leve cama revirada, lá descansou deixando-a com medo do escuro penetrante de noite chuvosa e fria sem luz alguma. Queria fugir deste escuro coberto por monstros infantis. Os barulhos a irritam, é a chuva do escuro, o barulho das palavras brincando de ciranda. Mas o barulho deveria ser dela, assim seria um barulho molhado, tentando derreter os açucares de quem ama.


Nicole Elis

Congestionamento de palavras.

Quero cuspir o que me afoga. Palavras que ontem me atormentavam, engoli uma por uma não deixando-as escapar. Quero tossi-las, vomita-las, cuspi-las. Não quero-as aqui formando um congestionamento de palavras. Andei esperando que com tantos passos eu esqueceria de cada uma delas, e mesmo com memória fraca, eu lembro de uma por uma, guardadas, engolidas, mas parecem ainda estar na garganta, ali, onde não quer ir e nem voltar. Preciso me livrar dessa coisa. Mas não sei. Parece que perdi a facilidade de joga-las fora. Antes era fácil, cuspia elas e logo iam embora com o ar, sumiam no horizonte e nunca mais me incomodavam. Acho que mais uma vez terei que aderir pelo silêncio. Esperando que alguma hora elas queiram ir para o céu, ou apenas em uma folha de papel.

-Nicole Elis

Só nós, sem eu.

Faça de mim sua. Escreva meu nome naquele seu caderninho azul. Deixe-me ser só sua. Meu amor, amor. Risque o eu, coloque nós. Abraça-me e diz que sem mim não vive. Minta um pouco, juro que dormirei sorrindo. 


Nicole Elis

Domingos de ex-amor.

O azul do céu me acobarda. É um dia como aqueles perfeitos, mas não há nada de anormal, só solidão e musica, só. Ouço barulho, pulo impetuosa pensando que és tu. Vou ver, mais uma vez não é. Não voltará, eu sei. Mas o azul do céu é tão belo, trás paz, e me faz olvidar que tu foste embora. Parece que é como aqueles domingos de nada, em que tu saias para comprar um doce e logo voltava todo alegre tentando deixar-me feliz. Mas o doce não vem, e tu também. Sinto falta de teus acordes, de seu tom, de sua musica, de seu gosto. Doce. Sinto falta de seus solos em mim. De juras excêntricas. Do açúcar demasiado no café. Do jeito que rias da minha falta de inteligência. Sinto falta do doce que tu eras. Sinto falta da primavera. Mas sei. Ah, eu sei. Que novamente vou esquecer que tu não virás. Mas em um barulho, vou correr tentando encontra-lo, com um doce na mão, e na outra todo amor que perdemos por ai.


-Nicole Elis

domingo, 6 de novembro de 2011

Do eu ao novo eu.

Era tão adocicada, sempre com seus sapatinhos de boneca cor-de-mar. Sempre toda ajeitadinha, com seus olhos jabuticaba, sua pele pálida e bonita, sua boca rosada, como suas lindas maçãs do rosto. Sempre à sorrir. Mas acabara de concretizar seu maior sonho: Um amor. Na verdade um amorzinho, pequenininho, bonitinho, docinho. Sempre esperou -como as crianças esperam seu presente de natal- algo grandioso e magnifico do amor, como contos de fadas, os bobos "felizes para sempre". Apoiou-se, como se não fosse sair dali cedo, confortou-se ali. Seu cabelo cacheado e dourado escureceu, sua roupinha que sua mãe sempre arrumava com carinho para deixa-la combinando, descombinou. Tava tudo descombinado, seu coração, principalmente. Caiu no chão, sentiu-o, viu que o real não era como pensava. Estava certa. Conto de fadas não existe, e nem o amor de nuvens.

Nicole Elis