segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Lavanderia 24h.

Felicidade: Uma palavra nitidamente difícil de ser pronunciada por um ser que caminha pela chuva às 3 da madrugada de domingo.

  Seus olhos como o sempre eram fixados ao chão. Seus fones falhados cantavam uma música meio antiga, que o sujeito adorava. Parecia que pelo menos um pingo de felicidade estava caindo sobre os ouvidos do rapaz. Seu casaco preto já estava ensopado, devido a grande quantidade de água que caia do céu escuro, sem nem sequer uma estrelinha à brilhar. Ele andava e procurava, algo que eu não conseguia descifrar. Meus pés pisavam nas mesmas lamas que o pé daquele moço pisava. Logo percebi o que eu estava fazendo: seguindo-o.

  Para que a minha curiosidade tinha que chegar aquele ponto? Onde eu estava com a cabeça? Acho que a chuva gelada tinha congelado meu cérebro.
A musica que saia dos seus fones estavam tão altas que eu podia ouvi-la e tentar cantar junto. Seus passos eram pesados, tão pesados que fazia a água pular do chão.
 Minha mente não se calava, fazia perguntas para eu mesma. O que um homem de quase dois metros de altura, andando quase em círculos, na chuva de uma madrugada de domingo, enquanto sua musica ensurdecia-o?

  Já tínhamos passado pela lavanderia 24h, algumas vezes, acho que estávamos andando em círculo.
 Apesar de passos pesados, ele tinha um jeito doce e leve de andar, e passar a mão por seu rosto molhado. Era uma doçura nunca vista por meus olhos.

 Algo rápido e meio inacreditável acontece: Ele para, olha para um banco, e até parecia que eu conseguia ouvir sua mente pensando "sento ou não sento?". Então ele senta, como um velho bêbado sem ter onde ir. E é aí que eu percebo que ele é muito mais bonito do que eu havia pensado. Sua pele demasiadamente branca combinava muito com seus olhos pretos, que com certeza fazia um conjunto perfeito com seu cabelo castanho-escuro. Mas as afeições do rosto era o melhor de todo o seu ser, era tudo tão perfeito que combinava com todo o resto, principalmente com seu casaco ensopado por causa da amarga chuva que caia sobre nossos corpos gelados.

  Certamente meu cérebro estava congelado. Sentei ao seu lado, fazendo-o olhar para mim com um olhar estranho. Em um momento ele estava empedernido. Parou, sem dizer, sem mostrar nem uma cara de desgosto além do seu olhar estranho. Era como se virasse pedra.

- O... O... Olá... - Eu disse, abaixando o olhar podendo ver claramente seu mocassim marrom e molhado.

- Oi. - Foi apenas uma palavrinha, mas assim deu para ouvir sua voz rouca.

 Seu olhar era tão triste quanto o de um poeta sem inspiração. E nada mais pronunciamos, ele só ficou a olhar para meu casaco vermelho-sangue, e o impacto da chuva em minha pele, e eu o seu mocassim que ficava cada vez mais molhado. E então, do nada, ele deu uma risadinha. De que diabos aquele ser estava rindo?

 - Estava me seguindo? - Ele perguntou com um sorriso maligno nos lábios.

 - Cla...Cla... Claro que não. Eu sempre caminho em círculos por está rua em madrugadas de chuva...

  E ele simplesmente deu mais uma risadinha e se calou. E por mais um tempo ele olhava para meu casaco vermelho-sangue e o impacto da chuva em minha pele.

  Felicidade: Ainda era uma palavra nitidamente difícil de ser falada por dois seres sentados em um banco encharcado enquanto se ensopam com a grande quantidade de água que despencava do céu.

 Fiquei por lá, pensando sobre minha mente estar se mudando aos poucos e minha alma tentando fugir de mim e ir para um lugar talvez melhor. Agora eram os meus olhos que estavam fixados no chão e ao mesmo tempo no nada. E se não houvesse chão? Eu estaria olhando fixadamente para o nada.
 Os meus olhos não estavam mais tão perdidos, e nem fixados no nada ou no chão. Estavam nos olhos daquele belo moço. Parecia ter achado.

 Infelicidade: Talvez era difícil essa palavra ser pronunciada por dois seres que se acharam em uma madrugada chuvosa de domingo.

Nicole Elis

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