segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Dizeres de alma mendiga.

 Sinto-me encharcada, fui afogada, parece que morri. Poderiam me torcer e destorcer, continuaria assim. Pareço uma roupa mal lavada, pendurada no varal ao lado de roupas tão branca. Me sinto suja. O toque da mão que me torce não é doce como deveria, e o que destorce é tão áspero que dói só de lembrar.

 Acho que mergulhei em auto-mar, afundei, afundei, e apareci aqui. Não quero sair, não gosto de imaginar onde poderiam me levar, talvez para um lugar incomum, ou, ou tão comum que vire assustador, tão assustador que nem caiba mais tanto eu.

 Mas acho que vivo para lembrar e não para ser torcida. Lembro do mar tão salgado, saindo por meus ouvidos e cuspido pro minha boca. Lembro de um braço que além de me torcer como se fosse por mais uma vez uma roupa molhada, me impediu de dar um salto daquela cena. Minha alma queria se desprender, mas parecia difícil com aquela figura estranha impedindo-a. Lembro da musica que tocava, parecia o som da morte, ou do mar. Meu rosto era de uma criança adormecida, suspirava como uma e agia como tal.

 Talvez seja assim, sou apenas uma criança impedida. Quer ir brincar, mas a porta está trancada. Ouve gritos e risadas de crianças felizes enquanto pulam na lama e se sujam sem preocupação. Mas não pode juntar-se a elas. Corre, corre, mas continua ao mesmo. Molhada, apesar de se torcendo e destorcendo. Sou criança, sou alma de mar.

 Vou correr, desta vez libertarei-me, mas a culpa pesa mais do que minha alma limpa, a sujeira é tanta que não vejo o branco. O limpo se torna sujo, o sujo se torna imundo. E logo sou a alma que nunca quis ser. Sou alma mendiga, suja, com fome, sede, tentando se libertar mesmo sendo tão livre. Assim me faço a grandiosa pergunta: Se libertar do quê?

 Talvez seja de mim. Desta pobre alma mendiga.


Nicole Elis

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