segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Eu.

 Vou começar a deixar tudo no chão, parece tão mais prático e tão mais eu. Vou cuspir-me e deixar ali, vou derrubar-me e não limpar o rastro do chão, vou vomitar-me e ficar caída como uma criança que não sabe andar. Acho o natural tão melhor. Vou deixar o cabelo crescer, a unha ficar comprida, os olhos mais cegos, os ossos mais fracos. Vou deixar de ser exemplo, vou ser eu. Assim poderei guardar-me sem receio algum. Vou ficar como uma boneca parada sem nem piscar os olhos.

 Vou deixar raízes crescerem em meus pés e em meus braços crescerem folhas. Virarei arvore. Mas não serei uma arvore que dá sombra, acho que serei aquelas pequenas, tímidas, que ficam tão na sua que nem parecem que estão ali ao seu lado te fazendo cocegas.

 Acho que começarei a aceitar a minha alma preguiçosa e medrosa. Farei com que todos não reparem, com que ninguém toque em mim. Serei medo. Serei terror. Como aqueles programas de domingo que tanto passam e não levam ao nada além da segunda feira de manhã fria e tediosa. Não levarei a nada.

 Vou ser eu, deixando tudo exposto, como se meus sentimentos fossem grandes obras de arte desorganizadas em uma estante adolescente. Como se meus copos quebrados fossem esculturas, e meus rabiscos pinturas. Eu cairei por cima de tudo, e lá ficarei, tudo será exposto, até a outra face de mim.

Nicole Elis

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