terça-feira, 20 de setembro de 2011

Silêncio.

 Estava um silêncio ali, não um silêncio amargo e sim um silêncio de amor. Ele acariciava seus longos cabelos negros que cobriam toda a sua coluna. Sorriso meigo. Aquele sorriso que para ele iluminava mais do que as estrelas. Logo seus olhos enfrentavam os dela. Olhos cor de esmeralda, tão brilhantes quanto o sorriso. Que sorte de estarem juntos naquela noite fria, podendo esquentar um ao outro. Logo depois dos olhares e caricias, aqueles dois lábios tornaram-se um só. O lábio dele avermelhado e o dela meio apagado. Logo abraços, um só novamente. Eram um só. Silêncio. A música de fundo havia acabado. Eles não viviam sem o silêncio da musica. Levantaram como em um pulo. Olhares quentes. Corpos brancos e frios, principalmente o dela. Ele levantou disposto. Sua estante era cheia. Pegou dois, seus preferidos. Falou como em um sussurro, com voz rouca, e um grande tom de amor.
- Qual deles?
 Ela sem dizer uma palavra apontou para a esquerda. Beatles. Sempre Beatles. Ele sorriu. Amava o silêncio dela. Amava aquele olhar de mistério. Gostava de tentar descobrir o que aquele meio termo sentia ou queria. Ela olhou-o satisfeita, e com amor, como se o chamasse novamente para seu lado, ali naquela cama pequena que mal cabia aqueles dois corpos. Ele parecia ter desvendado esse olhar. Mas fez um sinal de espera e saiu por aquela porta branca com algumas palavras desconhecidas por ela.
 Como se ela dublasse a musica, mexia os lábios no ritmo. Sentia-se como se estivesse em um filme, de tão perfeito. Pisou no chão e acordou para a realidade. Acendeu um cigarro. Levantou-se e andou em direção aos discos. Como se folheasse um livro, viu os discos rápido, mas um por um. Seu corpo estava exposto, mas nem percebera. Colocou uma blusa dele. Beatles. Sempre Beatles. Sentou-se naquela miúda cama mais uma vez. "Que bagunça" pensou. Só pensou, sem falar uma palavra. Amava o silêncio. Mais um cigarro, nessa altura seus pulmões estavam pura fumaça, mas nada atingia seu coração. Por enquanto. O olhar dela o queria ali, já passava alguns minutos daquele sinal de espera e do olhar de "não vai". Sem segundos. Como se os pensamentos o trouxesse ali. Ele entrou no pequeno cômodo mais uma vez. Tinha duas xícaras na mão. Café. Sorriu. E ele quando a viu sorrio também. O olhar perguntava se ela queria, e ela sem nenhuma palavra dizia que sim. Ele a amava e ela o amava, só o olhar dizia, não precisava de palavras para isso. Ele viu aquela fumaça toda, odiava cigarro. Foi até à janela, abriu-a. O som da noite da cidade enterrou-se em sua pele pálida e brilhante, junto com a brisa. Ela o olhou com um olhar de reprovação. O barulho atrapalhava a sua musica. Era época de carnaval. Ele gostava. Apenas sorriu. Ela encolheu-se. Ele sentiu o frio. Deitou-se junto a ela. O silêncio era grande. Só podia-se ouvir o barulho dos lábios se tocando e dos carros lá fora naquela noite de carnaval. O olhar mistério voltava. Ele sorrio. Disse algo, mas ela não ouviu, estava concentrada demais no lábio avermelhado dele. Mistério. Suspiro. Silêncio. Ele saiu e ela ficou ali lembrando de cada movimento de seus lábios a alguns segundos atrás. Silêncio e frio. Ele voltou com algo na mão. Supostamente uma caixa. Olhar de mistério, mas dessa vez dele. Ela pegou aquela caixa, suas mãos tremiam gritando por surpresa. Olhos de mistérios com amor viraram surpresa com amor. Beijaram-se. Tornaram-se um só mais uma vez. Silêncio. Amava o silêncio. Amavam o silêncio.


- Nicole Elis

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